outubro 20, 2004

Ouvindo Sade By Your Side

E os ciclos se completam...

Nós três, na foto que mais gosto.
Amanhã, 21 de outubro de 2004, o Ser Humano completa três anos - FELIZ ANO NOVO!!! - e completamos, juntos, mais um ciclo de vida.

Por definição, ciclos não marcam encerramentos a não ser os de si próprios, pois por um milagre da vida trazem dentro de si as sementes de um novo ciclo que se inicia.

Talvez mais marcante do que o encerramento de um e o início de outro seja a mágica da vida presente no perpetuar dos ciclos, como ondas que chegam à areia da praia sempre trazendo mais outras consigo; como o Sol e a Lua com seus ciclos nos envolvendo dia e noite após dia e noite.

Além de para os outros, blogs são feitos primeiramente para nós mesmos - são um instrumento pelo qual podemos nos situar no Tempo, marcar nossa presença nessa Humanidade, uma espécie de livro virtual que nossos antepassados não tiveram e que nossos descendentes possivelmente terão em formas talvez mais apropriadas.

Por problemas técnicos recentes os arquivos iniciais do Ser Humano não estão acessíveis a quem o lê pelo endereço http://schico.blogspot.com. Para ler o primeiro post publicado em 21.10.2001 é necessário acessar pelo endereço http://planeta.terra.com.br/arte/serhumano e lá ir aos Arquivos Anteriores, clicando no Outubro 2001, que deixo linkado aqui, mas pode ser que abra ou não. É sobre este post que escrevo agora, é sobre este ciclo que se encerra e outro que se inicia, este momento tão único na minha, em nossas vidas, que escrevo agora.


Comparando aquele momento do ciclo com o atual, sinto assim:

- Ainda ouço Sade e Craig Chaquico, muito mais do que antes.

- Uma saudade de Campinas e da Pedra muito forte dentro do coração. Campinas se foi, talvez para sempre, a Pedra fica.

- Das coisas materiais e do estilo de vida tão cheio de supérfluos - que hoje parece um sonho - até fica uma saudade compreendida e assimilada como tal, mas o mais importante é a Pedra que vive eternamente dentro de mim.

- Naquele momento do ciclo havia um amor maravilhoso programado para acontecer e eu nem imaginava! O maior amor de minha vida, sincero e total. Nunca amei tanto - de minha parte garanto isso -, nem fui tão amado - da parte dela espero que não fique tão convencida. O maior amor de minha vida até agora, pois para ambos desejo de coração que tenhamos maiores e mais felizes ainda. Valeu qualquer sacrifício. Aconselho a todos um grande amor desses!

- Momento Positivo: Por causa dela aprendi a colocar em prática essa vontade tão forte de escrever. Quem sabe um dia eu aprenda isso.

- Candeias veio, com toda a família unida. Ajo por intuição e por uma força muito forte que me impulsiona. Alguns podem até não entender assim, mas tudo o que fiz foi para reunir a família, tão pequena, que somos.

- Momento A Senóide Apontava para Baixo: Tentei um passo decisivo e não obtive o sucesso esperado, muito pelo contrário. Podem me criticar - nem imaginam o quanto eu mesmo me faço isso - mas pior seria se não tivesse tentado. Fiz, e assumo a responsabilidade pelo ato.

- Mais uma vez em minha vida bateu na trave! Ou um pouco mais do que isso: aos 48 minutos do segundo tempo bateu na trave e entrou, mas o juiz não deu o gol, o time contrário marcou no contra ataque - em impedimento - e o jogo acabou. Ruiu tudo, mas um tudo total, completo e absoluto. Tô reduzido a pó.

- Muita coisa boa aconteceu também, momentos tão felizes que se tornam absolutamente inesquecíveis. De tudo, o mais importante é que meus filhos conseguiram dar o passo fundamental para direcionar suas vidas. Parabéns pra eles!

- Da mesma maneira que nem suspeitava desse grande amor o que será mais que poderá vir e nem imagino? "Tudo é possível para o coração que deseja com Vontade".

- Obrigado Senhor por tudo de bom que pudemos viver nesse ciclo e pelo que teremos no novo ciclo que se inicia agora.

- Por que será que é assim? O que o Destino reserva nesse novo ciclo? Só mais um pouquinho e saberemos...

Tá na moda congelar Seres Humanos. Por motivos de força maior talvez este Ser Humano seja congelado por uns tempos, mas é coisa do ciclo. Pode ser que volte.

outubro 17, 2004

Ouvindo Eliane Elias

E os domingos vêm...

... uns após os outros numa sequência em que os dias internos são engolidos pela boca do Tempo: de repente já é o próximo domingo.

Domingo, o quereriam sem possibilidades, limitado, cerceado... mas não o quero calado. Abro esta página tão branca quanto virtual e começo a martelar teclas que me podem libertar das mesmices impostas pelos resultados da ousadia de ter tentado o "impossível", cujas raízes o Nada aí de baixo começou a abocanhar antes mesmo de se atreverem a nascer.

"Impossível" não por definição, mas por condição, por estar assumindo sozinho a responsabilidade quando tantos o conseguem tão normal e facilmente que soa parecer absolutamente "possível", justamente por terem com quem dividi-la e dividi-lo. Mas não responsabilizo ninguém por isso, a escolha que naturalmente me sobrou foi esta - é assim.

Estranha contradição, egoísticamente o tento só, mas não espero alcançá-lo para e por mim. Pareço ser eu a ponte para que se faça possível o caminho.

Já, por tentá-lo torna-se parcialmente "possível" - assim como o criei em minha mente, já existe, é. Não sei delimitar as margens de seu sucesso, o quanto ultrapassei suas fronteiras, só uma sombra de mim chega lá? De qualquer maneira a sombra (que de negativo nada tem, é só uma parte da Luz) é parte de mim também. Portanto só ao imaginar já o conquistei.

Conquistei em cada segundo, cada gota de pensamento, cada imagem, cada sentimento, cada momento desta luta que é a realização última do explorador, do aventureiro eu.

Não posso agora parar.

E, do nada, como de costume, aparece este post escrito em 22.01.2002, quando o Nada que sempre me acompanhou nesta vida já mostrava claramente sua presença. O Nada, é Tudo. Duvida?

E a vozinha que vem do coração então me disse:

"Deixa estar Schico, let it be, pelo menos vc tem a consciência tranquila. Mas não se cobre demais, não lhe foram dadas condições de arcar com mais do que vc pode. Deixa estar, que naturalmente as coisas entrarão nos seus devidos lugares. Abra espaço para que a mão de Deus possa agir, não interfira, Ela vem! Ela não lhe faltará!".

Durante o dia vou procurar uma imagem para colocar aqui. Uma hora aparece.

outubro 15, 2004

Ouvindo Piano - agora Chopin

E Jaboatão dos Guararapes apareceu na mídia novamente...

... e não foi por causa de tubarão!!! Também por algum motivo bom é que não foi, infelizmente.

Pra quem não conhece, Jaboatão dos Guararapes é uma cidade com duas partes distintas: Jaboatão Centro fica a uns 30 km da orla marítima e é a origem de tudo - tem que pegar estrada para ir pra lá; Piedade, Candeias e Prazeres ficam na orla, sendo que Piedade e Candeias são a orla propriamente dita - classe média, média-alta e alta - e Prazeres fica mais para dentro um pouco, na BR - bem peba (pobrezinha para quem não sabe o que é isso). Piedade e Candeias são continuação para o Sul da Praia de Boa Viagem em Recife, só que num determinado ponto vira outro município. Aqui neste post dá para ver a divisa na orla.

Esta noite, mais uma tragédia não anunciada chacoalhou a comunidade daqui: o desabamento do Ed. Areia Branca. Fica difícil acreditar no que aconteceu, não houve nenhuma descarada falta de providência de nenhum órgão governamental como origem, pelo menos a princípio, nem nada de muito errado. Simplesmente aconteceu. Há dez dias atrás ninguém imaginaria isso. Não havia sinal aparente algum.

A primeira sensação que fica é a de que existem certas coisas que fazem parte de sua vida e que você nunca nota que existiam, até desaparecerem numa tragédia não anunciada. Durante anos passei diariamente em frente ao Ed. Areia Branca, era caminho obrigatório para sair de Candeias, mas eu nunca havia visto o Areia Branca. Ficou no subconsciente, pra vir à tona teve de desabar.

Sou Engenheiro Civil e desabamentos mexem comigo. Na raiz. Não aceito isso, luto contra essa idéia de todas as maneiras, é contrário ao meu ser. Eu construo, não destruo. Mas desabou.

Era um edifício de classe média alta, com 26 anos de habite-se, então a fundação deve ter entre 27 e 28 anos de execução. Apartamentos bons, daqueles de quatro dormitórios, pé direito alto, construção feita com coeficientes de segurança mais altos, coisa daquela época. Não se pode em absoluto pensar em falha construtiva pois um edifício que fica de pé por 26 anos não pode ser mal feito. Algo muito diferente aconteceu alí.

O mais diferente foi terem morrido algumas pessoas. A classe alta ganhou dinheiro com a construção; a média alta ganhou conforto por 26 anos e agora um belo prejuízo financeiro - mas isso se recupera; a classe baixa perdeu a vida - isso não se recupera. Até o momento em que escrevo aqui só foi achado o corpo do porteiro do edifício, e parece que mais três pessoas que lá estavam não conseguiram fugir à tempo e não foram ainda encontradas. Um dos que conseguiu correr está tentando uma UTI pois na fuga foi atropelado - a avenida é movimentada e fica na orla - e por motivo de abandono do sistema de saúde até agora não conseguiu vaga em UTI - escapa do desabamento e corre o risco de morrer por falta de atendimento. O pior sobra para os pobres. Não estou simplesmente criticando, nem assimilei os fatos ainda, só estou constatando.

Dudu, meu filho, tem um amigo que morava neste prédio e junto com mais alguns amigos estavam passando o feriadão em Porto de Galinhas - eles alugaram uma casa e estavam se divertindo antes de começar o semestre na UFPE. O garoto recebeu um telefonema dos pais no domingo contando o que estava acontecendo, e na terça-feira quando voltaram ele já voltou para a casa de parentes, na quinta à noite o prédio desabou.

Dá para acreditar num negócio desses? Pode acontecer com qualquer um. Poderia ter sido pior se os próprios moradores não fossem de classe mais alta e não tivessem para onde ir. Todos, precavidos, se mandaram por conta própria - não houve a tão alegada evacuação pela Defesa Civil, saíram por decisão própria. O pai do amigo de Dudu queria ficar dormindo no apartamento para guardar as coisas mas a mulher dele não deixou. Tá vendo como mulheres são importantes e homens são mais bestas?

Não se sabe o que aconteceu, mas não foi uma coisa gradativa, anunciada. Foi de repente, levou no máximo 10 dias para ser notada e se concretizar. Preliminarmente acredito em algum problema relativo a alteração das condições de subsolo, localizadas, puntuais, por agentes externos e infelizmente concentradas em pontos críticos da estrutura do prédio, na fundação dos pilares centrais de sustentação. Se foi isso, tem de analisar a fundação de todos os prédios de Piedade e Candeias.

Uma tragédia. Justifica-se a perda destas vidas humanas? Será mesmo que não havia indício algum deste final? Será que as pessoas que analisaram a estrutura tinham conhecimento técnico suficiente para essa análise? Será que pára por aí? Só perguntas...

Não fui lá ver. Não gosto disso, mas dói aqui dentro por vários motivos.

outubro 12, 2004

Ouvindo Chopin e Chaquico

De quando o nada começou a se manifestar...

De quando o nada começou a se manifestar
...muito havia e não se dava conta,
mas aos poucos, igual a monstrinho de video game,
vai o nada abocanhando o que lhe compete,
engolindo e transformando o que não se sabe ter e o transformando
de tudo em nada.

Mas o que é o nada?
Discutiam os cientistas outro dia num artigo,
dizendo ser impossível construir aqui o nada,
a ausência de tudo.
Sempre há alguma coisa dentro do nada.
Discordo parcialmente, o que em si já é concordar,
pois se parcialmente não é nada alguma coisa deve ser.
A não coisa é uma forma de coisa,
portanto nada é que não seja, ou é?

Estou perigosamente próximo de alcançar o nada.

Em outros tempos, de faculdade, quando nada imaginava do que seria hoje,
quando não sabia que o nada se sentia,
até para quem não quisesse ouvir dizia que o ideal seria
morrer quando nada tivesse,
ou seja, deixar o que pudesse
para quem de direito aprouvesse
e da minha parte, morrer após gastar o último centavo.
Já que nada levaria, de que adiantaria aqui deixar?
Aproveitamento máximo possível.

A vida dá voltas e o nada começa a engolir a matéria...
Estou perigosamente próximo de alcançar o nada
e isso me faz tremer.

Do pouco que tenho e do muito que devo,
um menos o outro,
estou quase chegando ao nada.
Vixe...

outubro 04, 2004

Ouvindo...

cores que desbravam o cinzento desconhecido...

Cores desbravam o cinzento desconhecido
...o cinzento e enevoado desconhecido.
Meus caminhos de agora.

Qual Sol que desponta do horizonte
aos poucos vão desbravando o éter cinzento.
As cores fazem música:
são ondas do mar chegando à areia da praia,
chiam numa escala desconhecida aos que nelas nunca navegaram.

Espatifando-se contra rochedos seculares,
espocam rugidos entranhados nos tempos.
Envolvendo náufragos esperançosos,
salgam suas bocas sedentas:
alimentam sua Fé.

Mar, Cores e Ventos,
propagam-se em Ondas que chiam, espocam ou rugem,
chegam, espatifam-se ou envolvem,
náufrago, náufrago ou náufrago.

Minha Alma sedenta,
salgada nas dores cinzentas,
rema, calma, decidida e compenetrada.
Pilota sua casca de noz pelo espaço cósmico
em direção às cores que desbravam o cinzento e enevoado desconhecido.

Esta é a minha oportunidade
- crua, dolorida, fel puro -,
de navegar cinzas e torná-los cores,
às custas de minha próprias dores.

Esse é um texto de François Porpetta. Mais informações sobre a casca de noz podem ser encontradas nestes posts aqui.